Tricotar a vida
Tricotámos retalhos
De tantas cores
Tecemos sonhos
Mesclámos momentos
Adornámos a nossa manta
Ponto por ponto
Entrelaçámos vida
Sem fim previsto…
Ontem…
Vislumbrei-me
desacompanhada
E prossegui a tricotar mais retalhos
Tingindo-os de névoas
Noites humedecidas
E madrugadas em leito arrefecido…
Ergui-me cega
de desejo
De Ser…
Ser retalho azul de águas distantes...
Verde de planícies apetecidas
Uni-os com fios de sol
Que as minhas mãos desfiavam
E…
Num
rendilhado aberto
Misturei as
cores guardadas em mim
Todas as cores da memória
Aprisionadas
no meu labirinto secreto
De sonhos habitados…
Agora
A minha manta
tem retalhos
Cerzidos a pétalas aveludadas
e aromas a noites de lua cheia…
Rosa Fonseca, in “Viagem”